O errado é que está certo ou O mundo está ao contrário e ninguém reparou

Faz um tempinho, uma amiga conversava comigo sobre o prazer que as pessoas hoje têm de encher a boca para dizer que não têm tempo. É como se isso fosse sinônimo de sucesso. Eu nunca havia parado para pensar sobre isso, pois - ainda bem - esse não é o tipo comum de pessoas que fazem parte do meu círculo de amizades. Mas não pude deixar de concordar com ela.

Semana passada estava na escola da minha filha, com mães de outra turma. Conversa vai, conversa vem, caímos na história do filho único. Eu, na qualidade de filha única, faço campanha fervorosa a favor de irmãos. Nessa conversa expus que eu gostaria de ter mais de dois filhos, mas que no mundo de hoje, isso é muito difícil. Na minha realidade, essa dificuldade - que é a comum no meu círculo de amizades - passa,  inexoravelmente, pela questão financeira. Outras duas que participavam do papo disseram que a dificuldade era tempo, que a questão financeira se resolve, blá blá blá...

Eu, apesar de trabalhar muito (às vezes sim, às vezes não) repliquei que não tinha esse problema, pois sou profissional liberal - fato que fez as outras duas arrregalarem os olhos de espanto. Elas também são profissionais liberais, uma delas, inclusive, advogada como eu. Mas aí veio o assunto do primeiro parágrafo. É que eu trabalho em escritório grande, clientes empresa exigem muito e blá, blá, blá. Só faltou me chamar de looser. E eu disse: ah, eu tenho tempo sim, por exemplo, estou aqui agora, 11h da manhã ... e eu ainda dou aula! 

Eu tenho tempo para minha filha. Mais que isso, eu tenho um tempo de qualidade com minha filha. Culpa é um clichê da maternidade que eu não carrego. E sou muito feliz com isso. 

Esse é um tipo de sucesso que eu não quero.