quinta-feira, 25 de novembro de 2004

"Há muitas e muitas gerações, as mulheres de nossa família eram circuncidadas. Nossa mãe, como a maioria das mulheres sauditas, foi circuncidada quando se tornou mulher, algumas semanas antes do casamento. Aos catorze anos, quando Nura se tornou mulher, mamãe seguiu a tradição que conhecia e providenciou que a circuncisão de Nura fosse realizda num pequeno vilarejo a poucos quilômetros de Riad.
Foi preparada uma festa com banquete, e a jovem Nura deleitava-se com o fato de ser a homenageada. Momentos antes do ritual, mamãe lhe disse que a as mulheres mais velhas iriam realizar uma pequena cerimônia, e que era importante que Nura permanecesse deitada sem se mexer. Uma mulher começou a tocar um tambor, e outras mulheres cantavam. As mulheres mais velhas reuniram-se em torno da menina assustada. Nura, nua da cintura para baixo, foi segura por quatro mulheres sobre um lençol estendido no chão. A mais velaha de todas ergueu a mão e Nura, horrorizada, viu que ela segurava um instrumento em forma de navalha, Nura começou a gritar. Então sentiu uma dor lancinante na região genital. Atordoada, foi erguida no ar pelas mulheres e cumprimentada por sua maioridade. Completamente apavorada, viu sangue escorrendo dos ferimentos. Em seguida foi carregada para uma tenda e as lacerações foram cobertas com ataduras.
Os ferimentos não demoraram a cicatrizar, mas ela não entendeu as implicações do procedimento até sua noite de núpcias, quando sentiu uma dor insuportável e perdeu muito sangue. Como esse estado de coisas persistisse, ela passou a ter medo de fazer sexo com o marido. Finalmente, depois de engravidar foi a um médico ocidental que ficou horrorizado com suas cicatrizes. Ele disse a Nura que toda sua genitália externa tinha sido removida e que, sem a menor dúvida, o ato sexual sempre provocaria lacerações, dor e sangramento."
Trecho do livro Princesa - A História Real da Vida das Mulheres Árabes por Trás de seus Negros Véus, livro que devorei entre ontem e hoje. O mais interessante sobre esse ponto específico é que essa decisão acerca da circuncisão feminina é tomada pela mãe, ao contrário de todas as outras decisões familiares. Como pode a mãe, que também passou por tal brutalidade, repetí-lo com suas filhas? Não há que se falar nesse caso em diferença de cultura posto que nem as próprias mulheres sabem porque são submetidas a tal procedimento. O livro é bem interessante, eu recomendo.

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