domingo, 8 de outubro de 2006

Eu não queria fazer disso aqui palanque político, mas não consigo ficar alheia a tudo. Não consigo não me indignar e ver pessoas falando sem conhecimento de causa, sem saberem o que dizem, apenas engolindo tudo que a Rede Globo empurra goela abaixo (olhe que eu até gosto da rede globo...)

Mas no meio de tantas insanidades e incoerências que tenho visto e lido por ali, achei essa pérola que é o texto do Leonardo Boff. Mandei para alguns amigos pelo e-mail porque acho que, enfim, alguém tocou no ponto fundamentalmente diferencial entre os dois candidatos à presidência: o Estado neo-liberal x a República social (não necessariamente socialista).

Basta saber como seres humanos, o que desejamos para a sociedade em que vivemos e viveremos não para interesses e conveniências individuais.

Falhas todos temos, ideologia, não! Antes de decidir, vamos lançar um olhar multi-focal sobre a história!

O que está em jogo na reeleição presidencial

Leonardo Boff


Quem derrotou Lula não foi Geraldo Alckmin mas o próprio partido do Presidente, o PT. O destemor insano de altos dirigentes petistas pôs a perder uma vitória garantida de Lula já no primeiro turno. O que pesou mesmo não foi tanto o escândalo do dossiê contra o candidato Serra, pois dossiês sempre existiram, fabricados por políticos afeitos à intimidação e ao manejo da mentira como arma política. A ausência de Lula no debate final contou negativamente mas não foi o decisivo. O que destroçou o PT e atravancou o caminho da vitória foi a mostragem por todos os meios de comunicação da montanha de dinheiro para a compra do dossiê. Mais de 30% da população trabalhadora não ganha mais que um salário mínimo. Quando vê toda essa dinheirama se enche de auto-vergonha e pensa: meu trabalho não vale nada mesmo; nem que vivesse duas vidas acumularia tanto dinheiro quanto aquele mostrado ai. E esses corruptos tiraram de onde esse dinheiro? A indignação não tem tamanho. Políticos que usam esses expedientes mereceriam a excomunhão política e religiosa, tão grande é seu pecado contra o povo, sua dignidade e a economia popular.

Pode ocorrer um impasse jurídico, policial e institucional nas investigações do dossiê, especialmente se seu conteúdo for revelado, coisa que ainda não se fez e que pode eventualmente incrimiar a gestão do PSDB quando começou a corrupção das ambulâncias. Mesmo assim o segundo turno traz também lá a suas vantagens: finalmente se criará a oportunidade de confrontar dois projetos de Brasil.

Geraldo Alckmin representa o velho projeto das classes dominantes. Não sem razão os banqueiros e os grandes industriais o apoiaram, pois sentem afinidade de classe e comunhão de propósitos: garantir políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. Notoriamente não possui carisma e não apresenta nada de realmente inovador, capaz de suscitar uma nova esperança. A retórica que usa é despistadora. Mas cabe à análise pôr à luz os interesses de classe ocultos. A macroeconomia que enfeudou a política, seguirá seu curso neo-liberal deixando fatalmente anêmica a política social. Sua vitória representará o retorno daqueles que sempre construiram um Brasil para si, sem o povo ou contra o povo.
Lula dá corpo a um projeto de mudança. Apesar dos constrangimentos encontrados num ambiente hegemonicamente neo-liberal, tentou, com relativo sucesso, fazer a transição de um estado elitista e privatista para um estado republicano e social. Agora ele se vê obrigado a definir claramente seu projeto: dar a centralidade ao povo destituido, garantir seus meios de vida e sua inclusão cidadã. Para isso ele precisa se reaproximar de sua base real de sustentação: os movimentos sociais organizados e a imensidão dos excluidos. Esses poderão inviabilizar qualquer ameaça de impeachment. Tirar Lula é tirar nosso poder, dirão, é anular nossa vitória, é abortar nossa esperança.


Para se diferenciar claramente de Alckmin, Lula deverá mexer em pontos importantes da macroeconomia para que ela seja de fato o sustentáculo de uma política social maciça. Deverá ter a coragem de colocar um gesto fundador de um novo Brasil: retomar o projeto de Plínio Arruda Sampaio, um dos que melhor entende de reforma agrária, e realizá-lo integralmente a fim de fixar o camponês no campo e desinchar as cidades favelizadas. Ai sim se consolidará seu governo, inaugurando a transformação social possível para o Brasil.


Um comentário:

  1. Ótimo texto Paola, mas eu ainda não decidi o que será melhor para o Brasil.
    Obrigada pelo voto, a concorrência esta grande, a disputa esta voto a voto...vai até domingo.

    abraços,

    THA

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