sábado, 19 de março de 2005

Estou lendo o livro do Jabor, ele escreve muito bem. Mais ainda, ao ler algumas crônicas sinto-me feliz porque meu romantismo não é tolo e inexistente. Ok, pode até ser tolo, mas existe, ainda que perdido nas lembranças ou sentimentos de alguém que sequer conheço, mas que em cujas palavras me reconheço:

O amor cria momentos em que temos a sensação de que a ‘máquina do mundo’ se explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos, dos grandes beijos – eles podem ser enganosos. Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o sol entre os ramos das árvores e tudo parece decifrado. Mas não se decifra nunca, como a poesia. O amor é uma tentativa de atingir o impossível, se bem que o ‘impossível’ é indesejado hoje em dia; só queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.
Mas o fundo e inexplicável amor acontece quando você ‘cessa’ por brevíssimos instantes. A possessividade cessa e, por segundos, ela fica compassiva. Deixamos o amado ser o que é, e o outro é contemplado em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de ‘compaixão’ pelo nosso desamparo.” (Arnaldo Jabor, Amor é Prosa Sexo é Poesia)

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